
O Núcleo de Tecnologias e Educação à Distância em Saúde da Universidade Federal do Ceará (NUTEDS/UFC) participou do I Encontro da Universidade Aberta do Brasil realizado no Centro de Educação à Distância do Ceará (CED), em Sobral, entre 18 e 20 de junho. O evento discutiu as tecnologias digitais e os desafios e as perspectivas da educação à distância no País. Aproveitamos a discussão para realizar uma rápida entrevista com o Diretor do CED, Prof. Herbert Lima. Confira:
NUTEDS – Professor, como surgiu a ideia de promover o I Encontro da Universidade Aberta do Brasil no Ceará?
Herbert Lima – Esse Primeiro Encontro da Universidade Aberta do Brasil (UAB) no Ceará é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria Estadual de Educação, em parceria com a Universidade Federal do Ceará e com o Instituto UFC Virtual. Esse encontro foi planejado sob a perspectiva de que já havia ocorrido diversas reuniões da UAB com coordenadores, tutores, com o MEC (Ministério da Educação), com a Capes, no Ceará, mas nesses últimos anos – e já são quase uma década de UAB – não houve nenhum encontro desse tipo que reunisse alunos, pesquisadores, professores, estudantes de polo, coordenadores, tutores, em um único espaço. Como o CED é um órgão novo dentro do Ceará e tem esse papel de disseminar a educação à distância, o uso das novas tecnologias, as tecnologias digitais como ferramenta – tanto de formação, na perspectiva da educação superior, como também da educação básica – nós achamos oportuno realizar esse primeiro encontro. A ideia era justamente trazer todo esse fórum, onde a gente reúne palestras, minicursos, oficinas, apresentação de trabalhos científicos, troca de experiência entre polos… Nós temos aqui hoje, neste evento, coordenadores e alunos de diferentes municípios do Ceará. Essa é uma oportunidade que tem um potencial muito grande de juntar todos estes entes que estão em torno do programa da Universidade Aberta do Brasil aqui no estado.
É fundamental que o professor, que esteja em sala de aula, possa conhecer, se instrumentalizar e, acima de tudo, que ele seja capacitado para fazer uso dessas tecnologias de maneira adequada
NUTEDS – Um dos temas mais discutidos ao longo do encontro foi o uso de tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem em diferentes áreas do conhecimento. Como o senhor avalia esse fenômeno no Brasil e no Ceará atualmente?
HL – Eu sou muito otimista, mas sem tirar os pés do chão. Eu acho que a inserção de novas tecnologias de modo geral – no contexto educacional – se apresenta como uma ferramenta de apoio e de auxílio ao trabalho do professor. Então, o uso do software educativo, da realidade aumentada, de sistemas de mídias digitais, voltadas para o uso da educação, a multimídia, o vídeo, a videoaula, o ambiente virtual de aprendizagem como apoio, os abjetos de interatividade… Essas ferramentas são importantes, porque agregam um valor significativo à aula, ou ao processo de aprendizado, de mediação do conteúdo. Mas isso tudo só faz muito sentido se o elemento – que eu considero mais fundamental – estiver articulado entre tecnologia, conteúdo e o professor. Esse elemento é a metodologia, é como preparar um bom plano de aula, onde eu abordo o conteúdo com questões tradicionais, como disciplinas e currículos, e onde eu planejo como integrar isso a essas tecnologias. E, para que esses elementos possam se encaixar – convergindo para um resultado educacional significativo – nós precisamos ter a capacitação e a formação dos professores. É fundamental que o professor, que esteja em sala de aula, possa conhecer, se instrumentalizar e, acima de tudo, que ele seja capacitado para fazer uso dessas tecnologias de maneira adequada. A gente precisa de uma metodologia que faça uso integrado desses recursos.
NUTEDS – Quais são os grandes desafios até chegar a esses resultados?
HL – Nós temos alguns. Acho que precisamos primeiro pensar de modo geral. Para que a gente possa obter grandes conquistas e melhorar a qualidade da educação pública, temos de promover a valorização dos professores. Essa é uma constante e deve ser sempre pauta de discussão dos gestores públicos, da academia, da educação básica… Ter um plano de cargos e carreiras bem consolidado estimula e faz com que o professor – não só no uso das novas tecnologias digitais, mas com qualquer tipo de ferramenta pedagógica – se sinta mais estimulado e motivado. Outro grande desafio é a formação dos professores. Nós precisamos nos aproximar dessas tecnologias, que já existem na sociedade e que já estão consolidadas. Muitas vezes os professores fazem uso do banco de dados, de uma rede social, de vídeos, mas não conseguem trazer esses elementos para o dia a dia da sala de aula, para a intervenção de um conteúdo, inserindo novas estratégias de interação que vão além daqueles momentos presenciais. Temos de trazer o professor e fazer uma discussão mais aprofundada, que passe pelas metodologias de ensino, pelas tecnologias, pelas questões técnicas de manuseio destes recursos. O último desafio é a aquisição de todo o aparato e recursos tecnológicos. Os gestores públicos precisam ter essa sensibilização de que esses equipamentos podem ir pra sala de aula. Isso é de fundamental importância. Nós sabemos que esses equipamentos não são baratos, mas precisamos entender que qualquer tipo de investimento na aquisição desses materiais, na capacitação de professores e na valorização do seu trabalho ainda é pouco em relação à importância que tem a educação na sociedade.
NUTEDS – E que medidas o senhor apontaria para a superação desses problemas?
HL – Como eu disse anteriormente, é preciso promover a valorização dos professores. Então, se nós conseguirmos consolidar esses desafios da formação e da valorização, nós vamos dar um passo importante, que é fazer que essas ferramentas possam chegar de fato nas salas de aula. Se fizermos isso, se tivermos uma visão da gestão pública mais humanizada sobre o que é a educação e o trabalho docente, sobre a importância de educar bem nossos jovens – seja na educação infantil ou na superior – nós conseguiremos favorecer a qualidade da educação e, consequentemente, estimular o uso dessas tecnologias em sala de aula.